Busca

terça-feira, 20 de outubro de 2020

Eu sei o que vocês fizeram no verão passado (1997)

Bom, se você me conhece pelo menos um pouquinho deve saber que esse é o meu filme favorito, não só no gênero do terror, mas é o tipo de filme que eu gosto muito no geral. E eu nem vejo ele como terror, mas pretendo explicar direitinho o que eu realmente gosto nesse filme a ponto de deixar ele como número 1. Vamos ao resumo: quatro amigos (dois casais) acabam se envolvendo num atropelamento onde uma pessoa (aparentemente) morreu e eles chegam ao ponto de jogar o corpo no rio. Um ano depois, a Julie recebe uma carta e isso é o começo de uma vingança.

Mas esse é o tipo de filme que se resumir perde toda a graça, pois a graça está nos detalhes. A questão aqui é em relação ao mistério de quem é o homem que foi atropelado e as pessoas da vida dele, no caso, uma irmã, ex-mulher e o ex-sogro. E mesmo lendo críticas na internet, percebo que muita gente não reparou nessa sub-trama. Vou tentar explicar de uma forma clara e direta: homem e mulher iam pela estrada de carro, acontece um acidente, onde a mulher morre. O pai dela se vinga matando o genro na mesma estrada e jogando o corpo dele no rio. Minutos depois, o sogro é atropelado pelo carro com os 4 amigos. Só que quando a notícia sai no jornal, eles acham que o homem que eles atropelaram foi o genro, mas na verdade foi o sogro. E essa revelação é feita após conseguirem ir na casa da irmã do genro. Então esse é o primeiro ponto interessante do filme.

E como toda história que envolve mistério, há sempre um aprofundamento de alguns pontos, algo que a gente viu uma vez, mas depois voltamos pra saber mais. Por exemplo, nos primeiros minutos aparece um tipo de medalha que quando dá um peteleco ela gira e faz um barulhinho. No decorrer do filme, se você prestar atenção, tem mais 4 momentos onde esse barulhinho aparece ao fundo, quase imperceptível, mas que quer simbolizar a presença oculta do assassino. Outra coisa que acontece assim é em relação à loja de roupas, onde primeiro a gente conhece só o térreo, depois em outra cena é mostrado vários cômodos e um segundo andar. Isso também acontece no salão do desfile de Miss, a gente vê o mesmo local em dois anos diferentes, além da casa da Missy, que é mostrada duas vezes, na segunda descobrimos mais coisas. Sem contar que ainda tem um mistério que envolve um suposto amigo do cara que eles atropelaram, chamado Billy Blue. Isso é outro ponto interessante do filme.

Quando eu digo que não considero o filme do gênero do terror, é por um motivo: quem for esperando ver aquela carnificina que é tão comum e até banalizada em vários filmes, vai se decepcionar um pouco. Pra se ter uma ideia, a primeira cena de assassinato acontece aos 38 min. A segunda morte só vem depois de 70 min. Lembrando que o filme tem 100 min. Por isso acho que deveria ter outra classificação. O lado positivo disso é que os filmes do gênero do terror (principalmente da franquia Sexta-feira 13) raramente têm um bom desenvolvimento de personagens, geralmente são situações até um pouco forçadas só esperando cada um ficar isolado para serem atacados. Não é uma crítica, eu gosto desse tipo de filme também, mas acho que é interessante o Eu sei não entrar nessa mesmice e ter um desenvolvimento original. Até se analisar, no filme ocorrem apenas 5 mortes, sendo que a primeira é aos 38 min e as outras 4 são praticamente numa única cena longa de 12 minutos de perseguição. Inclusive essa cena específica, eu nunca vi um filme que uma cena de perseguição durou tanto tempo. Então, isso tudo engloba mais um ponto interessante do filme.

Outro ponto que eu acho bem legal é a estética criativa da figura do assassino. Pois todo filme do gênero busca criar um ícone através de uma máscara: Jason, Pânico, Freddy Kruegger, o boneco do Jogos Mortais, Anabelle, Chucky, IT, Hellraiser... Aqui não. O assassino dessa vez é só um homem com uma capa preta que cobre ele da cabeça aos pés, umas botas pesadas e um gancho que parece um anzol grande, que ele segura de uma forma específica. Foge totalmente do habitual. Até a personalidade desse personagem, que eles chamam de pescador não é tão bem abordada, fica muita coisa no ar. O cara não quer exatamente só matar eles, ele quer fazer eles irem sofrendo aos poucos. Por exemplo, ele tem a chance de matar o Barry mas só atropela ele. Tem a chance de matar a Helen, mas em vez disso, na véspera do concurso de Miss, ele corta o cabelo dela enquanto dorme. Ele mata o Max só pra colocar no porta-malas da Julie como uma forma de ameaça. Não lembro de um filme do gênero que o assassino é assim tão calculista. E toda a estética do personagem ganha mais um destaque pelo modo que o diretor conduz as cenas, com jogos de luz e sombras bem interessantes, que é o próximo ponto que quero falar.

Eu acho que a direção de Jim Gillespie faz toda a diferença nesse filme, inclusive depois procurei outros filmes dele e também pude notar a mesma técnica. O que ele faz é o seguinte: enquadramentos de câmera bem diferentes, usa câmeras em movimento já pensando numa cena longa, onde a câmera começa de um ponto até parar em outro, já esperando alguma coisa acontecer naquele momento. Por exemplo, quando duas personagens estão andando perto de um espelho e a câmera acompanha até o momento que no reflexo do espelho, calculadamente, aparece outro personagem. Ou quando uma personagem está indo em direção à uma escada, mas a câmera dá uma leve movimentada pra mostrar que o assassino está dando os últimos passos no alto da escada e entrando no quarto dela sem ela perceber. Ele faz também uma jogada de luz e sombra em vários momentos, por exemplo, a gente não precisa ver o assassino, é mostrada só a sombra dele ou do gancho, na cena que uma personagem sobe por um elevador manual e o assassino sobe pela escada. Essa técnica toda pra mim é o ponto crucial do filme, se fosse dirigido por outro diretor acho que não seria tão bom. Além de que, o filme inteiro tem uma trilha sonora que encaixa perfeitinho com as cenas, um toque bem legal.

Tem uma rápida citação à duas atrizes, numa espécie de metalinguagem. As duas amigas estão falando sobre Jodie Foster (do filme O silêncio dos inocentes) e sobre a Angela Lansbury (conhecida por papéis de suspense). E logo depois elas precisam usar um nome falso, se apresentando como Jodie e Angela. Pode ser que tenha vindo dessas duas atrizes alguma inspiração pros personagens. 

Agora, se eu pudesse citar um defeito do filme, que talvez nem seja um defeito, mas uma situação que acho que poderia ser mais trabalhada: podia ter um flashback contando a história do assassino, pois é explicado tão rápido que se você piscar, você não entende mais. Além disso, queria entender por qual motivo ninguém acreditava na Helen quando ela falava que estava correndo perigo. O policial não deu crédito ao que ela falou, ainda debochou e por isso, acaba saindo do carro e é morto pelo assassino. Depois o mesmo acontece com a irmã dela, duvida do que ela diz, pra morrer logo depois. Sinceramente, os dois morreram pela ignorância. Outra coisa que acaba ficando explicada em partes mas poderia ter sido melhor: como o assassino conseguia agir tão rapidamente, a ponto de entrar num lugar e sair sem ser percebido. Embora teve um momento que isso foi bem mostrado, talvez até pra deixar a gente curioso e dizer que daria pra fazer isso sim. 

Enfim, por isso tudo, é o meu filme favorito. Nesses 23 anos que o filme foi lançado, já ouvi muita gente questionando e desvalorizando por ser mais do mesmo, ou o que acho mais sem lógica quando falam que é uma cópia de Pânico, quando na verdade são filmes completamente diferentes e o Eu sei ainda surgiu como livro nos anos 70, ou seja, impossível ser uma cópia de um filme de 96. Eu acho que ele se enquadra mais nos filmes do estilo do Psicose ou até o filme Identidade, que têm uma uma história e alguns pontos isolados de assassinato, envolvendo mistério e revelação. Ah, esqueci de dizer que esse filme tem um valor um sentimental pra mim, me remete muito à infância, aquela época que a gente assiste muitos filmes com amigos e família. E talvez isso faça toda a diferença também pra eu gostar tanto dele. É isso.

Fonte da foto: aqui

3 comentários:

Gi disse...

Faz tempo que assisti, não lembrava dos detalhes mas lembro que também gostei dlo filme mas gostei mais do Lenda Urbana rs você poderia comentá-lo ? Bjo

Frederico Formiga disse...

Opa esse ja ta na fila. Em breve.

Vitor Furtado disse...

Também vou colocar esse na minha lista... quando for assistir, te aviso !